Bem-Estar, Sustentabilidade

Agenda 2030: os sons da natureza, nossas escolhas e atenção

Por Claudia Girotti | Publicado em 8 de setembro de 2020

Em 2001 fui a Inhotim e visitei a obra instalação "O Som da Terra", de Doug Aitken, que coloca uma série de microfones em um furo de 200 metros de profundidade no solo para captar o som da Terra, e isso me causou um impacto enorme sobre a forma como eu vivo e me relaciono com a Natureza.

Sim, talvez eu tenha tido essa experiência de impacto pois já venho focando minha atenção às consequências que as nossas escolhas como sociedade provocam e produzem na Natureza, mais cedo, ou mais tarde.

O som desta obra de arte é transmitido em tempo real, por meio de um sofisticado sistema de equalização e amplificação, no interior de um pavilhão de vidro, vazio e circular, que busca uma equivalência entre a experiência auditiva e aquela com o espaço. Definir o que de fato escutamos no interior da obra não é trivial, é uma vivência intima, singular e única, como a arte contemporânea se propõe a ser.  Microrruídos são gerados no interior da Terra, mas a enorme cavidade também cria um espaço de reverberação contínua, cujo som é transformado pelo trabalho de equalização. Ouvimos um padrão nunca repetitivo, rico em frequências e texturas, que remete à música minimalista de Terry Riley e Steve Reich. A obra de arte serve como gatilho de um processo contínuo, vivo e aberto: uma vez que o processo é estabelecido e iniciado, ele funciona por si mesmo, sem final determinado. 

Aliás, o que determina o final é como determinamos o processo. Hoje, não serve apenas ver e ouvir os fatos, é preciso sutileza e discernimento para enxergar e escutar o que, de fato, os fatos contextualizados contam e significam. Pequenos fogos em todos os lugares provocam incêndios supostamente imprevisíveis, por desatenção e indiferença aos resultados no longo prazo. Estamos enclausurados na visão urgente do curto prazo. Visão confortável, mas míope, da 1ª lei de Newton, lei da Natureza que empreende o menor gasto de energia para se manter.  

Contudo estamos empreendendo o menor esforço para não nos manter. A Natureza empreendera o seu menor esforço para se manter. Um vírus me parece algo bem primitivo.

A Agenda 2030 prevê 17 Objetivos com orientações baseadas no valor da Sustentabilidade para que nós, indivíduos pessoas físicas e jurídicas, decidamos como agir e atuar nas esferas que impactamos.  

A palavra Sustentabilidade tem sido usada de maneira vulgar, a ponto de a virar chavão de marketing. Então, usarei a definição de Leonardo Boff, que me parece a mais apropriada ao que acredita esta coluna: "… toda ação destinada a manter as condições energéticas, informacionais, físico-químicas que sustentam todos os seres, especialmente a Terra viva, a comunidade de vida, a sociedade e a vida humana, visando sua continuidade a ainda atender as necessidades da geração presente e das futuras, de tal forma que os bens e serviços naturais sejam mantidos e enriquecidos em sua capacidade de regeneração, reprodução e coevolução.” 

E como manter a esperança na Humanidade? Como acreditar que faremos bom uso do discernimento que exige mudanças contínuas, vivas e abertas, como o som da terra? 

A teoria da generosidade (Rogerio Ruschel) acredita que o ser humano é um ser social, que no seu caminho evolutivo vai aprender a colocar os interesses dos outros com a mesma prioridade de seus próprios interesses. O ser humano é capaz de ser um espírito de cooperação e de solidariedade: quando a consciência atenta compreenderá que o alimento de hoje chega envolto no plástico que suja o rio, onde está o peixe que comerá amanhã.

Alguns exemplos para inspirar a sonhar o que for desejável e a agir no que for possível: 

  • Faça um trilha, siga devagar percebendo os sons da mata.
  • Abrace uma árvore, sinta-a. Não é pra tirar foto e postar sua conexão. Sinta a conexão.
  • Plante uma árvore. Se sinta participando do ciclo da Natureza.
  • Faça uma hortinha em casa: Alecrim, manjericão, hortelã. Use em suas receitas.
  • Faça suas escolhas. Conecte-se. Atenção ao Futuro, dependemos do hoje. 

Nossa Agenda é a Agenda Carioca pelos objetivos da Agenda Global 2030.

Fotos: Margot Richard / Brian Yurasits / Nadine Primeau
Fonte:  Unsplash
Fotomontagem: @nucleoi

Claudia Girotti

Claudia Girotti é movida pela curiosidade, apaixonada pelo novo e a favor do ritmo da ação sustentável. É diretora de Marketing e Comunicação na Núcleo-i e busca sempre imprimir um olhar inovador sobre a vida. Para entrar em contato, mande um oi para [email protected].

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