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Em “Meu Destino É Ser Star”, Helga Nemeczyk brilha na pele de uma diretora sonhadora

Por Antonia Leite Barbosa | Publicado em 8 de fevereiro de 2019

Como toda boa sagitariana, Helga Nemeczyk é uma daquelas artistas que não se pode e nem deve colocar em uma caixinha: cineasta, dubladora, cantora e atriz são alguns dos títulos que ela carrega no currículo. Casada com o trabalho - mas nem tanto, Helga conquistou reconhecimento ao mostrar seu trabalho para o grande público em 2006, quando entrou para o time do Zorra Total, programa no qual ficou por dez anos e interpretou personagens que caíram no gosto popular, como a perua Ana Gisele. Depois disso, Helga decidiu explorar o mundo das novelas quando aceitou dar vida a ex-dançarina Glenda em Rock Story (2016) e impressionou o público em 2018 quando imitou grandes nomes da cultura pop, como Janis Joplin e Ana Carolina, no quadro 'Show de Famosos' do Programa do Faustão.

O que poucos sabem, no entanto, é que entre cada papel a atriz trilhava um caminho um tanto quanto diferente do que até então havia mostrado na televisão: uma carreira como atriz de teatro musical. Com grandes montagens na bagagem, como Vamp e Chaplin, Nemeczyk empresta a voz, desta vez, para a diretora Helga no musical “Meu Destino É Ser Star - Ao Som de Lulu Santos”. Em cartaz até o dia 24 de fevereiro no Teatro Riachuelo, o espetáculo, cuja direção geral é assinada por Renato Rocha e a musical por Zé Ricardo, conta a partir de 40 sucessos do cantor a trajetória de um grupo de artistas que sonha com o estrelato, explorando os bastidores da produção de uma peça a fim de trazer uma nova perspectiva sob o âmbito dos musicais.

Entre uma sessão e outra, a Agenda Carioca bateu um papo exclusivo com a atriz sobre tudo o que tem direito: musicais, Lulu e novos projetos, como o programa “Cozinhando com Helga”. Vem conferir!

Helga em clique nos bastidores de "Meu Destino É Ser Star" (Foto: Caio Gallucci)

Agenda Carioca: O que te fez falar sim para esse espetáculo e, claro, para essa personagem?

Helga Nemecyzk: Quando eu fui chamada para fazer o teste eu fiquei sabendo que não era uma personagem de comédia e essa foi a primeira coisa que me chamou a atenção, porque eu tenho buscado, nesse momento da minha carreira, fazer coisas diferentes daquelas que as pessoas estão acostumadas a me ver fazendo. A segunda coisa, claro, foram as músicas do Lulu porque eu sou muito fã do cara e, como a minha mãe ouvia muito o trabalho dele com a minha tia, passei toda a minha infância e adolescência ouvindo também. O repertório do Lulu fez parte de toda a minha vida.

AC: Como foi se preparar para viver a diretora Helga?

HN: Eu busquei a mim mesma em um momento da minha vida que eu dirigia. Quando eu fiz faculdade de Cinema, na Estácio, eu pude dirigir 3 filmes e em um determinado momento, inclusive, cheguei a cogitar a possibilidade de não ser mais atriz e só dirigir porque eu amei dirigir e realmente me apaixonei pela Cinema. Tive essa experiência como diretora durante 4 anos, então eu fui lá atrás buscar em mim mesma aquela ansiedade de dirigir um projeto, de não saber se vai dar certo, de pesquisar o elenco, sabe? Tudo isso eu tirei da minha própria memória afetiva de tudo o que eu já havia vivido.

Helga caracterizada de Helga pelos olhos do fotóagrafo Markos Fortes.

AC: Na sinopse do espetáculo, o público já pode perceber que a diretora Helga tem um objetivo em mente. Mas quem é essa mulher para além do sonho de produzir um musical?

HN: Além de ser essa mulher que tem um sonho, ela é determinada. Ela é forte, mas ao mesmo tempo muito frágil porque quando ela se vê sozinha, sem ninguém, achando que a peça não vai acontecer, ela desaba. Como todo artista, ela também tem a sua fragilidade. Esse espetáculo é um sonho antigo que ela tem e ela vai a luta, sempre buscando perfeição naquilo que ela acredita, naquilo que ela quer contar. Então, por exemplo, ela vai atrás de uma atriz que precisa ter um sonho tão importante quanto o dela para que a história que ela quer contar tenha mais verdade.

AC: O nome do musical que ela quer montar se chama “Toda Forma de Amor” e tem como inspiração os amores da vida. Por que você acha que ela tem essa enorme vontade de falar sobre esse sentimento?

HN: Eu acho que a Helga é muito sozinha. Quando ela fala que se casou com o teatro em dado momento da peça isso mostra que ela não tem um amor. Ela ama o teatro e a arte, mas ela queria ter um amor da vida dela. Como ela vive para o trabalho, se dedicando somente a isso, ela não se permite tirar esse tempo voltado para o trabalho para embarcar em um possível amor. Então, eu acho que ela quer falar sobre amor exatamente pela ausência desse sentimento na vida dela. Ela sente falta.

Helga em momento de descontração com a parceira de cena Myra Ruiz. (Foto: Caio Gallucci)

AC: Você acha que a Helga da vida real é parecida com a Helga da ficção?

HN: Sem dúvidas. As únicas diferenças entre nós duas é o fato o fato de que eu tenho um noivo há cinco anos, que me completa, que é o amor da minha vida e de que eu divido o meu tempo entre trabalho e vida pessoal. Sou casada com o trabalho, mas consigo equilibrar. Assim como ela, eu também sou uma pessoa extremamente carente. Eu acho que todo artista acaba sendo um pouco porque a gente quer aplausos, queremos ser amados. E eu preciso de alguém para me amar assim como ela também sente falta de alguém para abraçar, para beijar, né? Não dá para ficar só acompanhada do melhor amigo gay. (risos) Não sou completamente feliz se não tiver alguém do meu lado. Eu ainda não aprendi a ser feliz sozinha, como diz a minha mãe.

AC: Em “Meu Destino É Ser Star” mais de 40 músicas do Lulu Santos são interpretadas e é impossível alguém não ter uma favorita, que tenha marcado algum momento. Qual a sua canção favorita?

HN: “Certas Coisas” marcou um momento da minha vida que eu tive uma paixão platônica que não foi recíproca. Foi bem aquela coisa do ‘’eu te amo calado como quem ouve uma sinfonia....”. Esse momento ficou marcado para sempre. (...) Eu ouvia essa música e sentia que a letra tinha sido feita para mim. Aliás, não só eu como muita gente que estava sofrendo de amor deve ter pensado isso, né? (risos)

Helga contracenando ao lado de Jéssica Ellen e Victor Maia. (Foto: Caio Gallucci)

AC: Logo no início do espetáculo, podemos mergulhar no mundo das audições, entender um pouco como elas acontecem e como cada ator se sente. É algo que realmente marca a carreira de vocês. Durante a sua trajetória como atriz, teve alguma audição que tenha sido especial para ti?  

HN: Eu gostei muito de fazer a audição dos Les Mis para interpretar a Madame Thénardier porque eu passei e não pude fazer por causa da novela. Foram muitas etapas, eu fui muitas vezes para São Paulo e os produtores, que eram ingleses, queriam muito que eu fizesse a peça mesmo sem ter o perfil da personagem. Eles disseram que me queriam no espetáculo de qualquer maneira, então eu fiz vários testes porque eles iriam descobrir qual era o papel perfeito para mim de qualquer maneira. Só que quando chegou na final eu já tinha recebido o convite da novela e não ia dar para fazer os dois na mesma época. Isso partiu o meu coração e os deles, nós choramos juntos e nos abraçamos e ele entendeu que a novela era mais importante do que o teatro no currículo de um artista aqui no Brasil. Quando você ouve isso de alguém da Broadway, de um cara que está acostumado a trabalhar com milhões de pessoas maravilhosas, é algo gratificante. Então, mesmo que eu não tenha conseguido fazer o espetáculo, é uma audição que eu nunca vou conseguir esquecer porque nunca ninguém me quis tanto em um projeto gigantesco.

AC: Você tem alguns títulos importantes no teatro musical no seu currículo, como Vamp e Chaplin. Quais são os planos para o futuro? Há algum musical que você sempre teve vontade de fazer parte?  

HN: Eu tenho um sonho muito antigo de fazer Chicago. Gostaria de poder empreender, eu queria comprar os direitos e produzir, mas eu ainda não tenho dinheiro para isso. É uma peça que eu amo, que adoro, e eu também gostaria de fazer qualquer uma das personagens, ainda mais se for a Roxy ou a Velma. Seria maravilhoso para mim.

"Toda lindona com minha dólmã e chapeuzinho", escreveu Helga no perfil oficial do Cozinhando com Helga. (Foto: Instagram)

AC: Fora dos palcos você tem alguns projetos em andamento, como o programa do Youtube “Cozinhando com Helga”. Como surgiu esse interesse pela arte na cozinha?

HN: Foi quando eu fui fazer o Superchef, que é um quadro do Mais Você. Eu não sabia como seria porque eu arriscava algumas coisas na cozinha, mas nada muito sofisticado, sabe? O meu pai cozinhava muito e ele me ensinou algumas coisas porque eu ficava ao lado dele na cozinha. Quando me convidaram para fazer esse programa, ele tinha acabado de falecer e a primeira pessoa que veio na minha cabeça foi ele. Pensei em fazer esse programa em homenagem a ele e ao sonho dele de abrir um restaurante. Sei que ele ficaria feliz por me ver aceitar. Eu acabei me surpreendo porque eu fui tão bem e fiquei muito feliz por ter descoberto esse dom. Dois anos depois uma produtora de São Paulo me convidou para um evento beneficente em Santos e, como ela havia me acompanhado no SuperChef, ela perguntou se eu tinha vontade de ter um programa de culinária e eu amei a ideia e essa semana gravei em São Paulo mais de 10 receitas que serão divididas em seis episódios.

AC: O programa vai ao ar somente no dia 20 de março, mas tem alguma receita que você gravou nesses seis programas que você esteja muito ansiosa para mostrar e já pode adiantar para os leitores?

HN: Eu nem sei escolher porque muitas dessas receitas eu fiz de primeira, mas teve uma que eu já tinha feito no Superchef e decidi refazer como uma homenagem ao programa já que foi lá que eu descobri esse meu gosto pela cozinha. Ela tem um valor especial, um gostinhon de saudade. É uma receita de peixe robalo com crosta de amêndoa e purê de banana da terra.


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