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Para virar o jogo: novo livro propõe soluções para a violência no Brasil
Por Alessandra Carneiro | Publicado em 30 de agosto de 2018
Somos o país campeão de homicídios. Os dados divulgados em junho deste ano fazem parte do Atlas da Violência 2018, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Foram 62.517 mortes em 2016, último ano com dados disponíveis. Proporcionalmente, são 30,3 homicídios para cada 100 mil pessoas, outro recorde. Números que assustam e nos assombram a cada esquina errada que entramos, a cada volta sozinha para a casa, a cada sinal vermelho tarde da noite em que paramos. E isso sem falar de todos os outros tipos de violência a que estamos sujeitos. Assunto tão em voga e que afeta todos os brasileiros, a segurança pública é tema de um novo livro e debate na próxima semana. Referências na área, Ilona Szabó, diretora do instituto Igarapé, e Melina Risso, doutora em Administração Pública e ex-diretora do Sou da Paz, são autoras da obra "Segurança Pública para Virar o Jogo" e, nela, traçam um panorama do sistema de segurança pública e justiça criminal no Brasil, mostrando que há caminhos e soluções possíveis para reverter o atual cenário. O lançamento acontece nesta terça, dia 4, na Livraria da Travessa do Leblon, seguido por um debate ao lado da escritora e juíza Andrea Pachá, o ex-chefe da Polícia Civil/RJ Fernando Veloso e Raull Santiago, do Coletivo Papo Reto.
Szabó conta que a ideia do livro surgiu durante o ato em homenagem à vereadora Marielle, em frente à Alerj, logo após o seu assassinato. Ao ouvir que a multidão pedia o fim da Polícia Militar, a cientista política se questionou que havia muita gente mobilizada em prol de um futuro melhor, mas sem saber como, de fato, melhorar a segurança ao nosso redor. "O que estavam pedindo provavelmente não traria as mudanças que queremos", diz. Em seguida, encontrou Isabela Santiago, Gerente de Marketing da Editora Zahar, e propôs a ideia de um livro de bolso que explicasse o tema de forma clara, trazendo dados, exemplos concretos e propostas, e que também apoiasse o debate eleitoral. "No dia seguinte já estávamos combinando os próximos passos. O tempo era curto, e eu chamei minha parceira em várias causas, a Melina Risso, para se juntar a mim. Escrevemos a estrutura básica do livro em dois fins de semana prolongados em Petrópolis", conta.
E o livro é apenas um dos materiais que servem de base para a campanha Para Virar o Jogo, que será lançada em 3 de setembro com mais informações pelo site www.paravirarojogo.com.br
As estratégias para diminuir a violência se dividem em dois pilares: a prevenção, que consiste em um conjunto de ações colocadas em prática para evitar que os crimes aconteçam, e a repressão, que ocorre depois de que um crime acontece. "Associamos muito segurança às polícias, mas outras instituições, de diferentes níveis de governo e poderes, como guardas municipais, Ministério Público e secretarias de administração penitenciária, também fazem parte desse aparato", explica Szabó. "Muitas das ações de prevenção são de responsabilidade dos municípios, como a criação de espaços públicos de convivência seguros, investimento na primeira infância e programas de combate à evasão escolar. Podemos citar os exemplos das cidades colombianas de Medellín e Bogotá, onde essas estratégias foram priorizadas".
No livro - com prefácio do ministro do STF, Luís Roberto Barroso - as autoras falam ainda de temas como maior capacidade de investigação para a Polícia Civil; melhor treinamento e direcionamento da ação da PM para crimes violentos; mudanças no sistema carcerário; atualização das leis das drogas e fortalecimento do Estatuto do Desarmamento. "O aumento de 1% de armas de fogo eleva em até 2% a taxa de homicídio, segundo o IPEA. O Estatuto do Desarmamento que, ao contrário do que o nome pode fazer parecer, não desarma a população. Ele garante a posse, mas proíbe o porte de armas, isto é, não permite que civis possam andar armados nas ruas, já que mais armas em circulação significam mais mortes violentas".E como nós, cidadãos, podemos contribuir para a diminuição da violência? "É preciso se informar, buscando fatos e estudos com credibilidade e multiplicando essas informações. Outra possibilidade é se envolver em conselhos comunitários, programas de voluntariado ou atividades de organizações da sociedade civil. Também é essencial, claro, escolher representantes com muita responsabilidade e ficar de olho no que o candidato que elegeu, se eleito, está fazendo".