Ir contracorrente: desacelerando, valorizando e apreciando o fazer minucioso de uma criação que não quer ser 'só mais uma', mas levar história e propósito para quem for usar. Esse é, em curtas palavras, o mote do Projeto.Fio. Eu tive o prazer de esbarrar com essa novidades pelas redes sociais e pude bater um papo com as mulheres que estão por trás dessa marca social. O Projeto.Fio é, como as próprias denominam, um projeto de moda. Para me fazer melhor entender, eu poderia chamar de uma nova label ou grife de roupas, mas vai muito além disso - o que torna esse projeto notável (e lindo, mas isso as fotos podem confirmar por mim). O Fio nasceu de três mulheres cariocas e atuantes no mercado da moda: Olivia Silveira, formada em Design de Moda pela PUC-Rio; Ana Luiza Nigri, também designer de produto pela PUC-Rio; e Marina Bittencourt, designer de moda formada na Ucam. O ponto de partida do projeto foram os muitos questionamentos sobre a atual conjuntura do mercado de vestuário: peças produzidas a toque de caixa gerando enorme variedade de produtos, sem zelo pela qualidade, e apenas com o intuito de atrair clientes com preços reduzidos, incentivando o consumo inconsequente. Toda essa cadeia produtiva incentiva a exploração de mão de obra, com condições degradantes de trabalho e subsalário. O Projeto.Fio, por outro lado, busca pensar, se preocupar e cuidar de toda o ciclo produtivo: das produtoras das peças de roupa até o consumidor final satisfeito. Como funciona? A marca trabalha com capacitação de bordado para mulheres moradoras de comunidades do Rio de Janeiro como Rosa do Ventos, Vila de Cava em Nova Iguaçu, comunidade do Horto e Benfica. Essas mulheres bordadeiras fazem parte da Associação de Moradores do Horto e da Associação Sol e frequentam semanalmente encontros de capacitação e aceitaram embarcar no Projeto.Fio. O Projeto conta apenas com dois modelos de roupa: uma blusa e um vestido de viscose desenhados pelas criadoras da marca. O que vai tornar a marca única e criar uma coleção completa com peças diferentes é justamente o bordado. A mão, o tempo, a dedicação, linha de algodão e agulha que vão individualizar as peças que, até então, são iguais umas as outras. Com a ideia de uma produção justa, transparente e colaborativa, os desenhos, linhas, pontos e cartela de cores de cada peça são predeterminados pelas fundadoras, mas tudo é dialogado ao longo do processo com as bordadeiras. "Tudo é discutido ao longo do processo. Volta e meia as bordadeiras têm uma opinião diferente da nossa, e quase sempre a opção delas é mais assertiva. E cada uma delas costuma ter uma solução diferente. Isso fica muito evidente nas peças, um mesmo desenho bordado por mulheres diferentes nunca é igual. E isso é lindo", explica Olivia. Além das peças bordadas nas blusas e vestidos, o Fio conta com uma outra coleção de reuso em que resgatam peças furadas, rasgadas e/ou manchadas que seriam descartadas e dão nova vida, cor e estilo com suas linhas de bordado. Ficou curioso para conhecer? A primeira oportunidade já está aí: neste fim de semana, dias 18 e 19, vai rolar o Fio | A Mostra, a inauguração oficial da marca. Será exposta a primeira coleção do Projeto chamada Mato Alto. Olivia explica que os desenhos partiram do botânico e de um lugar bucólico. "Quando falamos em bordado, falamos de um tempo sem pressa. Esse tempo não está na cidade. Está em outro lugar. Mora junto com livros e com um café da manhã de horas", desenha a criadora. Sem se afobar e respeitando as mãos e tempo de quem borda, o Fio nasce com ternura, delicadeza e paciência artesanal que se destacam em meio aos ruídos e fast fashion, no qual apenas prioriza-se a próxima: moda, coleção e tendência. Valer conhecer o projeto e saber que as roupas podem contar histórias e serem queridas e preservadas, não até a próxima estação, mas desde sua concepção. Fio | A Mostra 18 e 19 de agosto - sábado e domingo Rua Pacheco Leão, 868 - Jardim Botânico Para mais informações, acessar o evento no Facebook. Instagram: @projeto.fio