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‘Studio Drift – Vida em Coisas’ mostra que tecnologia e natureza dão match

Por Alessandra Carneiro | Publicado em 28 de março de 2023

“Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. A célebre frase de Lavoisier poderia facilmente ser a sinopse da nova exposição do Centro Cultural Banco do Brasil, Studio Drift - Vida em Coisas. Em meio a tantas abordagens distópicas que vemos atualmente sobre o futuro, a mostra traz uma visão poética e utópica da fusão do homem com a máquina. Ocupando o primeiro andar do CCBB, as obras do Drift reletem a harmonia entre a tecnologia e a natureza. É possível beleza no casamento da eletricidade com o desabrochar das flores dente-de-leão, por exemplo, ou com o desmantelamento de objetos do nosso cotidiano — de havaianas e pandeiros a celulares e até um fusca — criando uma verdadeira reconexão com o planeta. A mostra fica aberta gratuitamente ao público de 29 de março a 22 de maio.

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O estúdio de design Drift (que em inglês significa estar à deriva, ou à mercê de algo) foi criado na Holanda em 2007 pelos artistas Lonneke Gordijn e Ralph Nauta. Desde então, eles vêm desenvolvendo esculturas, instalações e performances que colocam pessoas, ambiente e natureza na mesma frequência. Suas obras sugerem ao público uma reconexão com o planeta.

Lonneke Gordijn e Ralph Nauta (Foto:Teska Overbeeke)

Para o curador Marcello Dantas, “existe uma racionalidade por trás da obra deles, que é a possibilidade da natureza e da tecnologia viverem em harmonia. Seja pelo mundo biônico, seja pelo conceito de animismo, em que todas as coisas – animais, fenômenos naturais e objetos inanimados – possuem um espírito que os conecta uns aos outros”.

Logo na rotunda, os visitantes encontram grandes flores de seda que descem e sobem pelo teto, em um balé hipnotizante. Trata-se da obra Shylight (algo como “luz tímida”, se traduzido para o português), que imita o comportamento de certas flores que, durante a noite, se fecham numa medida de proteção e de economia de recursos. A ideia, neste caso, é mostrar que na natureza tudo está em constante metamorfose e adaptação.

Fragile Future (Foto: Agenda Carioca)

No primeiro andar, o passeio começa pela peça Fragile Future, uma escultura multidisciplinar de luz que traz duas formas de evolução aparentemente opostas que realizam um pacto de sobrevivência. Circuitos elétricos tridimensionais, de bronze, ficam conectados a sementes da planta dente-de-leão, que emitem luzes. Para a construção, a dupla recorreu a sementes que, uma a uma, receberam luzes de LED, num processo artesanal que resiste aos métodos de produção em massa e à cultura do descarte. 

A seguir, chegamos a Amplitude, uma instalação cinética que replica um movimento contínuo muito encontrado na natureza. Grandes bastões de latão e vidro respondem à força da gravidade criando um balanço de ondas do mar. O contraste do peso do metal com a leveza do movimento remete às adaptações ao ambiente e ao fato de que cada indivíduo, mesmo atuando em sua própria amplitude, reverbera em um movimento coletivo.

Uma outra escultura da mostra, Ego, (a obra foi pensada inicialmente para compor o cenário da ópera Orfeu), representa a rigidez da produção da humanidade até o momento e o quanto é importante que essa produção se torne fluida, para que não colapse. A obra questiona o quanto nossas esperanças, verdades e emoções são resultado direto da rigidez ou da fluidez de nossa mente.

Em Materialism, objetos do cotidiano são desmontados e comprimidos em blocos, instigando a imaginação sobre o papel humano na transformação da natureza. Tentar adivinhar o que eles eram originalmente é um dos quebra-cabeças (dica: não leia o descritivo na parede antes do passeio na sala). Volkswagen Beetle é a escultura mais óbvia pelo tamanho, mas surpreende pelos materiais usados: entre os blocos com os materiais secos que compõem o Fusca, está um bloco de crina de cavalo.

Também fazem parte da exposição as peças Franchise Freedom+Drone protytpeCoded NatureDrifters FilmDandelight e Making of DRIFT, uma instalação com peças que mostra uma espécie de “making of” do trabalho da dupla. 

É a primeira vez que um conjunto representativo de obras dos artistas é apresentado em solo brasileiro, embora a dupla já tenha percorrido um forte circuito internacional. Suas obras estiveram no The Shed (Nova York, 2021), Art Basel (2017, 2021), Victoria & Albert Museum (Londres, 2009, 2015), Bienal de Veneza (2015), entre outros. Trabalhos da dupla integram coleções permanentes do Rockefeller Center de Nova York, do Museu de Arte de Dallas e do Victoria & Albert Museum de Londres, e foram premiados como Design do Ano da Dezeen (2019) e no Arte Laguna Prize, de Veneza, em 2014.

Com patrocínio do Banco do Brasil, após a realização no Rio de Janeiro, a exposição segue para os Centros Culturais Banco do Brasil São Paulo, Belo Horizonte e Brasília.

STUDIO DRIFT - VIDA EM COISAS
CCBB RJ
(Rua Primeiro de Março, 66 - Centro)
De 29 de março a 22 de maio
Segundas: das 9h às 21h 
Quartas a sábados: das 9h às 21h
Domingos: das 9h às 20h
Ingressos gratuitamente na bilheteria ou em www.bb.com/cultura

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