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Elas no comando: a história por trás de restaurantes comandados por mulheres
Por Alessandra Carneiro | Publicado em 8 de março de 2024
Uma amizade que migrou para o trabalho, um crescimento profissional de quem sai do salão para a sociedade, uma paixão que nasce em família e um empreendedorismo de migrantes. O que essas histórias têm em comum? São todas protagonizadas por mulheres. Chefs e sócias de bares e restaurantes do Rio que fazem jornada dupla, tripla, que são mães, filhas, que superam dificuldades e o machismo no meio e que conquistam o público pelo paladar.
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A dupla Zazá Piereck e Preta Moyses, por exemplo, completa 25 anos à frente do Zazá Bistrô e de uma amizade que migrou do trabalho para a vida. Além dos dois casais de filhos das duas, que também são amigos, a parceria cresceu profissionalmente. Primeiro com o Zazá Bistrô Café e, desde 2023, com Zazá Travessa Ipanema e Leblon. Zazá cuida do frontstage, ou seja, de tudo o que aparece para o cliente, enquanto Preta é responsável pelo backstage, as engrenagens por trás do sonho. O conceito dos seus negócios vêm da vivência das sócias. As músicas são de suas playlists, as frases vêm de livros que leram, a decoração é feita por elas, e as comidas vêm dos sabores que gostam.
No caso de Terezinha Araújo, à frente há mais de uma década do Café 18 do Forte, a jornada dupla de mãe e empreendedora rendeu frutos. Hoje comanda o local ao lado do filho, Eduardo Araújo, também sócio do Quartinho, Pope e Chanchada. "Estar à frente de um negócio é um enorme desafio e, ao mesmo tempo, um prazer imenso. Quando os meus filhos eram pequenos, as dificuldades eram maiores, sem dúvidas. Hoje, por outro lado, é mais fácil dar conta de tudo. Gosto de estar por de toda a operação, do início ao fim, e, por isso, sou a primeira a chegar e a última a sair do Café 18, todos os dias; mas ainda sobra tempo – e amor – para cuidar da família e da casa.", relata.
Paixão que passou de mãe para filha também é a história de sucesso do Amir, hoje administrado por Ingrid Baouchi e Yasmin Boushi, filha e neta de libaneses. Quando Ingrid estava grávida, ela tinha um restaurante árabe em Ipanema. Mas foi na cozinha do clássico restaurante de Copacabana que Yasmin cresceu e, aos 15 anos, começou a trabalhar no salão como hostess. "Foi daí que veio a minha paixão pelo Amir, pela gastronomia e por receber. Aprendi muito com minha mãe, que é exigente, mas me ensinou muito com o amor, carinho e dedicação. Admiro demais a minha mãe como mulher e como profissional, a força e a garra que ela tem, mesmo depois de ter passado por muitos turbilhões. É a nossa 'abelha-rainha'", conta.
Assim como Yasmin Daniela Branco, sócia do Baduk, no Leblon, também começou pelos salões dos restaurantes. Na área desde os 18 anos, ela já passou por quase todas as funções da parte de salão e gestão de pessoas, fala com conhecimento de causa sobre essa engrenagem e o quanto ela é árdua para as mulheres. No grupo, que também assina outras casas do Rio como Maria e o Boi, Pabu Izakaya, Tasca Miúda, entre outros, Dani começou como gerente há 13 anos, até ser convidada pelos sócios três anos depois para entrar na sociedade. "Quando eu entrei neste grupo, depois de muitos anos de profissão, tive uma sensação de pertencimento que jamais tive antes", conta. "Em trabalhos anteriores, muitas vezes só percebi situações de machismo sofridas profissionalmente algum tempo depois, e hoje penso que enquanto eu puder inserir mais mulheres neste ambiente será uma forma de minimizar esse tipo de comportamento. Um momento muito sensível para mim foi quando tive meu filho, em época de pandemia, quando não sabíamos os rumos do mercado ainda. Quando a gente vira mãe, passamos a ser mais empáticas com as outras mães que também são profissionais, sobretudo numa profissão que exige tanto fisicamente. Quero que as mulheres cresçam e comandem cada vez mais, mantendo ainda assim tempo de qualidade e serenidade para lidar com sua vida pessoal e suas famílias. É difícil, mas numa gestão humana e feminina, acredito ser possível", finaliza.
A jornada carioca de Adriana Veloso, do Pescados na Brasa, começou há uma década quando ela se mudou do Pará para o Rio para acompanhar o trabalho do marido, José Maria, mais conhecido como Júnior. Enquanto ele fazia o trabalho de restaurador, ela arrumou um emprego bem distante de sua vocação, como atendente de uma farmácia. Mas o destino do casal já estava traçado. Como Adriana não come carne vermelha, os dois costumavam levar peixes para o churrasco dos amigos — com temperos dele e receitas dela. Entre os amigos, os pratos paraenses viraram as estrelas dos encontros e logo começaram a fazer peixes na brasa para vender num estacionamento da Av. 24 de Maio, no Riachuelo. Era apenas para "pegar e levar", mas os clientes começaram a parar para beber e papear enquanto esperavam a comida, fazendo dali um point. Saíram, então, em busca de uma casa para expandir o negócio. No mesmo bairro, em 2019, nasceu o Pescados na Brasa, um bar com peixes do norte assados e comidas típicas com insumos enviados do Pará pela própria família. O que era um complemento de renda acabou virando um restaurante, sonho da Adriana há muitos anos — ter uma "peixaria", como são chamados os restaurantes de peixe em Belém. Hoje, o casal tem o apoio da filha, Gabrielly Veloso, braço direito na operação da casa.
E essas são apenas algumas de centenas de histórias cheias de amor, afeto e dedicação femininas na liderança de restaurantes e bares no Rio. E para valorizar o trabalho delas não só hoje, no Dia Internacional da Mulher, mas em todos os outros dias do ano, confira abaixo uma lista de casas com a força feminina à frente para frequentar sempre!
- Aconchego Carioca e Sofia (Kátia Barbosa)
- Afro Gourmet (Dandara Batista)
- A Galeria - Insólito, Búzios (chef Victoria Teles)
- Al Farabi (Evelyn Chaves e Cândida Carneiro)
- Amaré Bistrô (chef Samantha Laurindo)
- Amir (Ingrid Baouchi e Yasmin Boushi)
- Aurora (chef Ana Beatriz Capão)
- Brota (chef Roberta Ciasca)
- Café Ateliê Benoliel (Monique Benoliel)
- Càm O'n (chef Ana Carolina Garcia)
- Baduk (Daniela Branco)
- Bar da Frente (Mariana Rezende)
- Belisco e Polvo Bar (chef Monique Gabiatti)
- Bendita Tortas (Érica Generoso)
- Benza (Anna Carpinteiro)
- Caju Gastrobar e Otra (Juliana Catharino)
- Café 18 do Forte (Terezinha Araújo)
- Clan BBQ (Janine Sad)
- Da Thábata (Thábata Tubino)
- Empório Jardim (Paula Prandini)
- Gato Café (Giovanna Molinaro)
- Guimas ((Bebel Mascarenhas, Domingas Mascarenhas e a chef Claudia Mascarenhas)
- Gula Gula (Patricia Wiethaeuper)
- Heanven Cucina e D'Heaven (Heavne Delhaye)
- Jobi e Jobá (Elina, Eliana e Carla Rocha)
- Kalango e Vendinha (Bianca Barbosa)
- Mané (Arianne Bastos)
- Naturalie Bistrô (Nathalie Passos)
- Páreo (Verena Maciel)
- Pitanga (Jess Hulme)
- Pescados na Brasa (Adriana Veloso)
- Prosa na Cozinha (Manu Zappa)