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Guia Michelin no Rio terá transmissão ao vivo: entenda a classificação
Por Alessandra Carneiro | Publicado em 20 de maio de 2024
Para muitos, só uma marca de pneu. Para poucos, uma, duas ou três cobiçadas estrelas que o colocam no mais alto grau da gastronomia mundial. O Guia Michelin, que surgiu em 1900 para incentivar os motoristas a viajarem atrás de boa comida, ainda hoje é o máximo de prestígio que um restaurante pode conquistar. Mas como começou essa história?
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Em 1889, os irmãos Andre e Edouard Michelin fundaram, na França, a famosa empresa de pneus. Onze anos depois, eles lançaram um pequeno guia local com informações úteis para os viajantes, com mapas, onde abastecer, como trocar o pneu, onde se hospedar e, claro, onde comer. Vale lembrar que estamos em 1900 e as viagens eram feitas quase sempre de carro. Com o lançamento, os irmãos Michelin queriam estimular as viagens, aumentando as vendas na indústria automobilística.
Até 1920, o guia era distribuído gratuitamente e também se limitava à França, principalmente à região próxima a Paris. Na época, vendo o sucesso de seu guia, que já era vendido por alguns comerciantes mesmo tendo sua distribuição gratuita, Andre Michelin teria soltado a seguinte frase: "As pessoas só dão valor àquilo que pagam”. As tão disputadas estrelas começaram a ser distribuídas em 1926, sendo que apenas em 1936 foi criado o ranking com as três e seus critérios.
Os inspetores, que viajam o mundo à paisana para experimentar os pratos de infindáveis restaurantes, avaliam as seguintes características: qualidade dos ingredientes utilizados; domínio do sabor e técnicas culinária; a personalidade do chef em sua culinária; valor pelo dinheiro; e consistência entre as visitas.
Mas o que significa cada uma das estrelas?
Vale pensar que o guia ainda considera a sua origem, as viagens de carros. Por isso, uma casa com uma estrela significa que é uma cozinha que vale conhecer, por possuir produtos de primeira qualidade, execução refinada, sabores marcantes e regularidade na realização dos pratos. As duas estrelas cabem a restaurantes que valem o desvio da viagem. Ali, os melhores produtos são valorizados pela experiência de um chef talentoso que assina, com sua equipe, pratos surpreendentes e originais. Já as tão cobiçadas três estrelas se referem a uma cozinha excepcional, que por si só já valem a viagem. Ali há a assinatura de um grande chef, que oferece em seus pratos produtos excepcionais, pureza e potência dos sabores, em pratos originais executados à perfeição. O nível aqui é de obra de arte.
Ao contrário do que muita gente pensa, a decoração, a mesa e o serviço não são avaliados – estas qualidades são indicadas pelo número de 'talheres' que recebe, representados pelo símbolo do garfo e colher, e recebem de um a três talheres, sendo: 1 para razoavelmente confortável; 2 para confortável; 3 para muito confortável; 4 para conforto de alta classe; e 5 para luxo no estilo tradicional.
Já o Bib Gourmand, lançado em 1997 e batizado em homenagem ao Bibendum, o carismático Boneco Michelin, é uma classificação que reconhece bons estabelecimentos que servem boa comida a preços moderados.
O Guia Michelin também reconhece a diversidade da culinária regional em alguns países da Europa: na Espanha, por exemplo, os bares de tapas são reconhecidos por um símbolo adicional de vinho e palito, enquanto os pubs de qualidade no guia do Reino Unido/Irlanda são marcados com um símbolo de caneca de cerveja. Enquanto isso, os restaurantes com listas notáveis de vinhos, saquês e coquetéis são reconhecidos com os símbolos de uva, garrafa de saquê e copo de coquetel, respectivamente.
Hoje, o Guia Michelin avalia mais de 30 mil estabelecimentos em mais de 30 territórios em três continentes (Europa, América e Ásia), e mais de 30 milhões de exemplares foram vendidos em todo o mundo desde então.
Mas quem são os tão temidos – e invejados – inspetores Michelin? Geralmente são profissionais da área que estudaram nas melhores escolas de hotelaria e gastronomia do mundo. Características como ser um viajante frequente ou ter trabalhado em diferentes países também são levados em conta. Junto, esse grupo é responsável pela classificação de mais de 30 mil hotéis e restaurantes em mais de 30 países.
Michelin no Brasil
A primeira edição do Guia Michelin no Brasil foi publicada em 2015 e a última em 2020. Agora, a premiação retorna com uma cerimônia no Belmond Copacabana Palace nesta segunda-feira, 20, que será transmitida ao vivo a partir das 19h pelo canal do Guia Michelin no YouTube.
O Brasil foi o primeiro país da América Latina a ter restaurantes estrelados e, mais recentemente, Argentina e México passaram a fazer parte do guia. Você deve se perguntar: por que outros países de destino gastronômico, como o Peru, não constam no guia de estrelas? A resposta é que, hoje, o Guia Michelin trabalha em parceria com escritórios de turismo locais, que pagam uma taxa para tê-los aqui. Por isso, as estrelas no Brasil estão limitadas às capitais Rio e São Paulo, cidades que trabalharam junto às organizações de marketing de destinos.
Mas isso, claro, não é garantia de que a cidade tenha algum restaurante estrelado. Veja por exemplo o caso da Letônia, que depois de investir milhares de euros para receber os inspetores Michelin, apenas um restaurante foi laureado e com somente uma estrela.
A ideia por trâs de pagar para ter o guia em sua cidade e país nos faz voltar ao passado, ao início do que era o Guia Michelin: um estímulo às viagens. Se o local vira referência na gastronomia, o dinheiro investido logo ganhará retorno no turismo, e atraindo visitantes com alto poder aquisitivo.
Em sua última edição, a rota Rio-SP teve 13 restaurantes estrelados, mas nenhum com as tão cobiçadas três estrelas. Com duas estrelas, apenas quatro restaurantes figuram na lista: no Rio, o Oro, do chef Felipe Bronze; e o Oteque, do chef Alberto Landgraf foram premiados. Já em São Paulo, o D.O.M., do Alex Atala; e o Ryo Gastronomia, do chef Jun Sakamoto, ganharam a dupla estrela.
Com uma estrela, a seleção é maior. No Rio, apenas três, sendo dois no Belmond Copacabana Palace: Cipriani e Mee. O outro estrelado é o Lasai, do chef Rafa Costa e Silva. Em São Paulo, a lista é maior: Evvai, Huto, Jun Sakamoto, Kan Suke, Kinoshita, Maní e Pichi.